A tribo não pode morrer a favor da nação – Marcelo Panguana

Nascido na Cidade de Maputo, precisamente no Hospital da Missão Suíça, actual Hospital Geral do Chamanculo, Marcelo Panguana cresceu no bairro de Xiphamanine, região sub-urbana da capital. É no Xiphamanine que Panguana, entrevistado por Álvaro Taruma, na mais recente sessão da Oitenta Noventa, revelou ter desenvolvido a sua visão em relação as diferenças entre as etnias, numa conversa em que também confessou ter medo de escrever poesia, mas também partilhou a sua visão sobre o desafio de viver da escrita.
“O escritor tem a responsabilidade de escrever sobre o que lhe rodeia, as suas vivências. Eu convivi com Macuas, Matxanganas, Matsuas, Manhembanes e foi aí que percebi que somos todos iguais.’’ A urbanidade presente em Marcelo Panguana e a possibilidade que teve de conviver com várias etnias desde a sua infância, permitiu-lhe perceber que “somos todos iguais”, foi nessa altura que iniciou o seu combate às diferenciações étnicas. “Lá não havia tribalismo, éramos todos iguais, vivíamos as mesmas alegrias, jogávamos futebol e mais tarde, no serviço militar obrigatório veio a acrescentar essa maturidade tribal, pois lá convivi com outros quadrantes de Moçambique, e é essa variedade que procuro enriquecer em tudo o que escrevo. Interessa-me vincar esses aspectos na minha obra como forma de torná-la nossa e que as pessoas se identifiquem com ela’’.
Marcelo lamenta que se esteja a matar a tribo para construir a nação, julga que as diferenças são importantes importantes para o crescimento do país.
Na literatura cada autor escreve segundo a sua inclinação e buscando referências locais, segundo comentou ao longo da conversa Panguana. Exemplo disso é o Aldino Muianga que faz da oralidade e a exploração dos espaços as marcas da sua escrita, mas também o Suleiman Cassamo, que reconstrói o Português Moçambicano nos seus escritos e Ungulane Ba ka Kossa, um criador de estórias, associando-as quase sempre a contextos históricos.
A literatura tem a capacidade de eternizar as pessoas, só morre quem não é falado. Disse Marcelo Panguana sobre a necessidade de escrever sobre os nomes que marcam a história do país.
A conversa foi conduzida por um autor de poesia a um escritor que escreve prosa, apesar de assumir-se temente a escrita de poesia, Panguana disse “somos (todos) um pouco poetas e minha primeira aventura literária foi a poesia’’, afirma sentir-se bem em escrever sobre temas que lhe tocam apontando as vivências como a base para a criação em seus romances.
Questionado sobre o estágio actual da literatura moçambicana, o autor de Como um Louco ao fim da Tarde disse que a “nossa literatura vem de longe, inicialmente marcada como poesia de combate, conseguido vencer essa etapa surge outra que veio substituir o paradigma de luta de libertação, essa é a que veio retratar a história de Moçambique de modo a que esta não morresse e posteriormente, veio a geração do Álvaro Taruma e muitos outros que têm a missão de dar uma linhagem definitiva da literatura moçambicana.”
Panguana defende a criação de políticas de defesa dos autores e só a partir dai haverá valorização do trabalho dos escritores. “O escritor pertence a uma sociedade e esse deve respeitar aos padrões de vivência em sociedades. Há muito preconceito pelo trabalho do autor. Eu acho que não se pode viver da arte apesar de existirem casos isolados’’.
Marcelo Panguana prepara uma obra a ser lançada ainda este ano, nela, segundo conta são abordados aspectos pouco discutidos em livros convencionais da história da guerra de libertação nacional, como é o caso da homossexualidade, a dor entre outros, que mostram o quão a guerra foi destruidora entre os Homens.
Assista a conversa aqui.
Escrito por: Marcela Matimbe
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