O teatro será sempre invocado na hora de explicar como Agnaldo Bata entrou para o mundo da escrita literária, pois o escritor é uma consequência das suas aventuras na dramaturgia.
Assim, a literatura, num primeiro momento, surge para complementar a escrita dramática, um exercício que limitava a sua criatividade, por entender haver sempre alguma coisa, que não podendo ser apresentada no palco, se podia melhor detalhar no papel.
Deste modo, surgiu a ideia de escrever contos mais longos a serem posteriormente transformados em peças teatrais. As obras levadas ao palco eram também readaptadas para a literatura, algo que fez de Agnaldo Bata um artista que vivia (re)inventando narrativas.
Foi neste processo que culminou com a fundação, junto com alguns amigos, do grupo teatral Skhendla, cujas apresentações foram aplaudidas em diferentes edições do Festival Internacional Teatro de Inverno (FITI).
Estes episódios foram cruciais para que se dedicasse à escrita em definitivo, ainda que acredite ter sido a ele destinada desde criança.
A cada noite, antes de dormir, sonhava um novo sonho. Um mundo mágico e melhor. Tinha um caderno de poemas onde eu escrevia todas as frases e letras de músicas que eu gostava, AGNALDO BATA.
INFÂNCIA
Proveniente duma família de imigrantes da província de Inhambane, Agnaldo Bata nasceu em Maputo, no início da década 1990, e tem toda uma vida no histórico Chamanculo, um bairro periférico caracterizado por casas de construção precária, com destaque para madeira e zinco, becos, erosões e uma heterogeneidade cultural nacional e, de certo modo, internacional.
Neste lugar, começou a alimentar o seu imaginário social, algo que até hoje o persegue, por pulularem na sua mente imagens duma infância e adolescência passada num Chamanculo cuja realidade está muito próxima aos bairros como Mafalala, Xipamanine, Munhuana, entre outros que acolheram grandes nomes das artes nacionais.
Recorda-se sempre desta heterogeneidade cultural que sempre marcou o bairro e destaca a sua capacidade de resiliência face a sua precariedade como elementos a serem usados para mostrar o outro lado de uma zona bastante descriminalizada devido a problemas como o saneamento, comunicação, educação, criminalidade, entre outras.
“O bairro sempre se manteve animado e parecia desvendar o segredo da felicidade mesmo na ausência de meios financeiros”, comentou quem a propósito deste discurso referiu que, com uma vida inteira no Chamanculo, não deixaria de lhe causar um grande espanto a descoberta da cidade durante a adolescência. “Percebi as desigualdades sociais que coabitavam num mesmo espaço físico não muito distante”.
A isso aliam-se as suas constantes viagens à Inhambane, que lhe permitiram passear em vários mundos e ganhar a consciência da heterogeneidade, diferença e diversidade cultural dos diferentes pontos do país.
INFLUÊNCIA
A maior vantagem da escrita é de podermos idealizar um mundo melhor. Para o efeito, temos de investir muito do diálogo interior, de modo que, ao partirmos para o diálogo exterior, consigamos nos impor ao mundo cruel, que quase nunca nos sede nada – AGNALDO BATA
O uso da palavra para abordar o quotidiano é algo que aprendeu com grandes mestres. Iniciou-se na leitura ainda na infância ao entrar em contacto com as obras de banda desenhada da Disney, Marvel e Dc Comics. Além disso, ainda no ensino primário, conheceu poemas e contos de autores nacionais e estrangeiros nos livros de português, isto a partir da 3ª classe.
Alguns anos mais tarde conheceu romances moçambicanos, dos quais “Malungate”, de Albino Magaia, foi a sua primeira fonte de inspiração. Depois descobriu outros horizontes em “Ualalapi”, de Ungulani Ba Ka Khosa, “Meledina”, de Aldino Muianga, “Baladas de Amor ao Vento” e “O Alegre Canto da Perdiz”, de Paulina Chiziane, “Vozes Anoitecidas”, “O País Do Queixa Andar” e “Cronicando”, de Mia Couto, e “Os Wombles de Wimbledon”, de Elisabeth Beresford.
OBRAS
Agnaldo Bata descreve-se como alguém com vontade constante de partilhar as suas mais profundas visões do mundo. Aqui está igualmente a razão pela qual os seus livros giram em torno de sentimentos controversos, do amor e paixão, da raiva e desejo de vingança, até à solidão, quase tendo o espaço urbano e suburbano como cenários.
Seu livro de estreia, “Na Terra dos Sonhos” (Alcance Editores, 2015) foi vencedor do Concurso Literário do Banco de Moçambique 2015. Conta a estória de Ângela, uma Mulher que nasceu numa pequena localidade do distrito de Manjakaze. Ainda nova, Ângela apercebeu-se dos desafios que a sua condição social (Mulher e Órfã) lhe impunham e quando todos pensavam que “sonhar” era o maior insulto que ela podia proferir contra a moral social que a cercava, Ângela mostra ser mais forte e com o apoio dos amigos que os espíritos lhe enviam (Gabriel, Sitoe e Edson) dá o máximo de si para vencer cada desafio, sempre movida pela justiça, determinação e a eterna vontade de ver os seus sonhos realizados, o incontornável anseio de chegar à terra dos sonhos.
“Na terra dos sonhos” foi a saída que encontrei para poder materializar o anseio de chegar a um universo onde podemos gozar esses direitos, lembrando que continua a ser preciso caminharmos em direcção a uma terra ideal – AGNALDO BATA
O segundo livro, intitula-se “Sonhos Manchados, Sonhos vividos”, menção honrosa do Imprensa Nacional Eugénio Lisboa 2018. O romance tem como ponto-chave as relações de amizade entre jovens que têm sonhos difíceis de concretizar. Ao invés de se deixarem levar pelas dificuldades as personagens procuram formas de viverem os sonhos sempre por acontecer. Uma narrativa sobre desafios, sobre os amores e desamores para com o ser humano.
EDUCAÇÃO
Bata é um homem multifacetado, formado em sociologia pela Universidade Eduardo Mondlane, conta com oito anos de experiência profissional nas áreas bancária, mineira e consultoria. A sua formação primária foi nas escolas primárias Unidade 13 e Completa 25 de Junho. Ainda passou pela Escola Secundária Francisco Manyanga, onde concluiu o ensino médio (12ª classe).
Actualmente encontra-se a fazer o mestrado em Ciências Sociais na Universidade de Paris-VIII, na França.