No novo livro, em que decidiu chamar “Compêndio para desenterrar nuvens”, Mia Couto traz estórias de uma escrita poética, com personagens e vidas complexas, mas apresentadas com a simplicidades de quem quer que o leitor se deleite com a leitura e se deixe embalar pelas estórias.
Antes de serem contos, foram crónicas publicadas na revista VISÃO, mas antes da escrita, eram seres que marcaram o encontro com o autor nos sonhos e nas experiências do dia-a-dia. Estas estórias flutuam entre o real e o imaginário, territórios quase invisíveis se pensarmos no universo moçambicano, habitado por muitas histórias.
Nestes vinte e dois exercícios de imaginação mais uma vez Mia Couto nos serve de guia para descobrirmos o que está no que vemos com os olhos e no que a imaginação nos dá a ver.
Em entrevista à VISÃO, Mia Couto abordou as linhas em que teceu as narrativas nestes termos:
A noção que temos da realidade mostra-nos que ela é muito pouco real ou previsível. A realidade é a mais ousada das ficções. Em Moçambique, como disse, talvez isso seja um pouco mais evidente, porque ainda há muitas realidades a chocar umas nas outras. É um país com muitas culturas e lógicas. Há, pelo menos, 28 povos, com as suas línguas, costumes e religiosidades. Por isso, basta sair à rua para se ser testemunha desses choques, que, por vezes, são pouco harmónicos, mas que, noutros casos, se combinam inesperadamente. Desse ponto de vista, a realidade moçambicana é muito apelativa. Não precisa da chegada de um escritor. Ela própria se diz e se constrói como uma ficção, que, a partir de tantos retalhos, tenta criar uma manta comum.