“É em nome da religião que as pessoas estão a ser mortas em Cabo Delgado”  Paulina Chiziane

Durante uma palestra realizada na semana passada em Maputo, a escritora Paulina Chiziane expressou sua profunda consternação diante dos ataques ocorridos em Cabo Delgado, enfatizando que um povo está sendo dizimado em nome de uma religião.

” Vejam o que esta a acontecer, hoje, em nome de um deus qualquer o nosso povo esta a sucumbir por ai, são guerras que se pretendem religiosas mas que de religião não tem nada porque uma coisa e dizer que a nova colonização esta em forma de religião e não  em religião, que fique claro isso”, afirmou Chiziane, como citado no Jornal O pais.

A autora prosseguiu dizendo que essa realidade apenas valida uma afirmação sua feita há mais de uma década, pela qual foi criticada: a de que uma nova forma de colonização emergiria sob o pretexto da religião. Além de abordar especificamente a situação em Cabo Delgado, Chiziane também mencionou outras áreas supostamente pacíficas do país.

“No sul, aparentemente tranquilo além do rio Zambeze, cada esquina é ocupada por uma igreja, cada uma com sua própria ideologia, algumas das quais mais estranhas que outras. Se no passado a colonização se deu por meio de armas e religião, agora vemos o retorno desse colonialismo. É crucial abrir os olhos para isso”, alertou a escritora.

Paulina continuou explicando que quando surgem múltiplos grupos religiosos num país, é necessário cautela, pois pode-se perder a liberdade, como ocorreu no passado. A população acaba por ser influenciada a pensar sob a óptica da religião ou sob a ameaça daqueles que detêm armas, argumentando que essa nova forma de colonização ocorre com facilidade devido à falta de uma base sólida na sociedade moçambicana, que, após a independência em 1975, acabou por esquecer suas raízes e tradições.

“Após a independência, parece que nos inspiramos na experiência colonial. Uma das primeiras coisas que fizemos foi destruir novamente nossos reinos. O sistema colonial cumpriu seu papel e, quando alcançamos a independência, nos tornamos nossos próprios colonizadores. As consequências estão diante de nós”, destacou.

A escritora também enfatizou que o desenvolvimento do país e a prevenção contra essa nova forma de colonização dependem unicamente dos moçambicanos, e não de intervenções externas. Essa mensagem foi transmitida durante um evento organizado pelo Moza Banco, intitulado “Pensar Moçambique: Construção e Reconstrução da Moçambicanidade”, onde dividiu o palco com o académico Nataniel Ngomane.

Por sua vez, Nataniel  Ngomane enfatizou a importância de revitalizar a noção de moçambicanidade, resgatando a simplicidade característica do povo moçambicano. Ele propõe que a construção da nação comece com a entreajuda, especialmente considerando o crescente número de pessoas necessitadas na sociedade.

“Devemos nos ajudar mutuamente. Eu me identifico com a filosofia de Ché Guevara e Fidel Castro, aprendemos com eles a nos ajudarmos, principalmente aqueles que estão em situação desfavorecida. Precisamos nos unir e ajudar uns aos outros”, ressaltou Ngomane.

Dessa forma, Chiziane e Ngomane  concordam com a importância de uma autoconsciência nacional e de solidariedade como meios essenciais para resistir à nova colonização e para promover o desenvolvimento sustentável de Moçambique.

 

Fonte: opais

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