À segunda foi de vez. Tomou-lhe o gosto. Chegou a terceira obra do escritor e jornalista Bento Baloi. É o segundo romance, “NO VERSO DA CICATRIZ” que é publicado em simultâneo em Moçambique e Portugal.
“É uma cicatriz que está no coração de todos os moçambicanos, nas vivências que tivemos, mas é uma cicatriz que oculta alguns fenómenos que vivemos, alguns fenómenos culturais, culturais e até antropológicos que temos de reviver para saber que existem e para construir um Moçambique melhor”, começou por explicar-se Bento Baloi, sobre o seu novo romance, No Verso da Cicatriz.
O livro surge de um projecto conjunto entre a Editora Índico, de Moçambique e a Alêtheia Editores, através da sua chancela Ideia-Fixa, de Portugal, que pretendem contribuir para a promoção de autores moçambicanos num espaço mais amplo de língua portuguesa, de acordo com a nota que o CATALOGUS teve acesso.
Uma história de paixões em tempos de guerra ou das reminiscências de um conflito armado que muito é falado a nível de consequências politicas e pouco do drama humano. O escritor encontrou nas margens dessa história que se arrasta nos dias de hoje, mas com outros contornos, vidas que se viram transformadas e que sentiram na pele o peso da guerra, sem deixar de sonhar nem de amar.
Bento Baloi “revisitou” as zonas de conflito, que muito devastou, sobretudo o Moçambique rural. Desde Mavago, em Tete e até mesmo e sobretudo Maguaza, em Moamba, por sinal território explorado também por Luís Bernardo Honwana em Nós Matamos o Cão-Tinhoso e até no cinema, por Licínio Azevedo, em “Comboio de Sal e Açúcar”. De resto, enquanto jornalista, o escritor Bento Baloi pisou esses territórios devastados que até hoje as marcas custam a apagar-se e falou com os sobreviventes, testemunhas de horrores que custam contar. Talvez para isso também serve a ficção. Para recontar as histórias horrendas sem deixar traumas.
“É preciso não nos esquecermos que tivemos uma guerra. Uma guerra que matou milhões de pessoas. É preciso não nos esquecermos que tivemos uma guerra e é preciso reflectir em torno dela. Mas, apesar do livro se chamar No Verso da Cicatriz, não com objectivo de reabrir as feridas do passado, mas como forma de pensarmos no que queremos para o país. E, seguramente, guerra nós não queremos”. Explica o autor.
Um livro que apesar de buscar os fenómenos do passado faz o caminho para o futuro. Porque é preciso contar as histórias silenciadas pelo trauma, para que, “as gerações mais novas” olhem o futuro com “olhos de ver”, conforme afirmou o autor na apresentação do livro a jornalistas, esta quarta-feira, no Centro Cultural Brasil-Moçambique.
“De vez em quando é preciso mostrar às pessoas, sobretudo às gerações mais novas, que não viveram a guerra terrível dos 16 anos para mostrar que a guerra não é boa. O que está a acontecer na zona Centro, em Cabo Delgado, não é bom, não é o que queremos para nós.”