O escritor e jornalista moçambicano Eduardo Quive está em Accra, Gana, a participar da CANEX Creative Writing Workshop, uma oficina de escrita criativa liderada pela renomada escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.
A iniciativa, que acontece pela primeira vez, reúne sobretudo escritores jovens de países como Gana, Namíbia, Madagáscar, Nigéria, Uganda, Ruanda, Sudão, Egipto e Angola, com outros autores consagrados do continente, nomeadamente, Hawa Jande Golakai, da Libéria, Richard Ali Mutu, do Congo, Eghosa Imasuen, da Nigéria e Zukiswa Warner, da África do Sul, com a finalidade de estabelecer laços e ligar as produções e os criativos do continente, rumo a uma indústria criativa sustentável em África.
Eduardo Quive expressou entusiasmo por fazer parte deste selecto grupo, destacando a importância de encarar a escrita como um trabalho que deve ser remunerado de forma adequada, por meio de direitos autorais e contratos editoriais. Ele também enfatizou o valor de conectar-se com outros escritores africanos para fomentar a colaboração e ampliar as oportunidades de mobilidade para obras literárias no continente.
Além da componente criativa, a oficina inclui aspectos profissionais, abordando questões jurídicas e comerciais relacionadas à profissão de escritor. Eduardo ressaltou que há poucos incentivos em Moçambique para a publicação de livros e que é necessário desenvolver uma cadeia de valor que possibilite a impressão e distribuição acessível de livros no país, para que a literatura alcance diferentes regiões.
“Estamos aqui a colher experiência como moçambicanos,” afirmou Quive, sublinhando a importância de iniciativas que financiem não apenas a publicação, mas todo o ecossistema literário. O autor também mencionou a relevância de fortalecer a indústria do livro em Moçambique, que actualmente se concentra em centros urbanos como Maputo, Beira e Nampula, deixando outras regiões sem acesso adequado.
Eduardo também destaca a necessidade de tradução para que a literatura moçambicana possa dialogar com outros autores africanos. Segundo ele, “é preciso começar a traduzir a nossa literatura,” e que este é um campo que pode abrir novas oportunidades de negócio, especialmente para pessoas e empresas focadas em tradução.
A participação de Quive no evento foi resultado de uma seleção em concurso internacional. “Eu candidatei-me para estar aqui,” explicou, destacando que sua ampla actuação na literatura moçambicana, incluindo a organização de eventos e a curadoria literária, foi um factor importante para sua selecção. De acordo com Quive, há um grande interesse dos participantes em conhecer a produção literária moçambicana, e o workshop pode abrir portas para que autores moçambicanos dialoguem com outros escritores africanos.
Por fim, Eduardo revelou que uma antologia está prevista como um primeiro passo para superar a barreira da língua e fortalecer essas conexões literárias entre autores do continente africano.
Creative Africa Nexus, CANEX, é uma iniciativa lançada pelo Banco Africano de Exportação-Importação (Afreximbank) para apoiar e impulsionar as indústrias criativas e culturais de África. O programa tem como objectivo abordar os desafios enfrentados pela economia criativa, fornecendo um conjunto abrangente de ferramentas, incluindo o acesso ao financiamento, o desenvolvimento de capacidades, o apoio ao comércio e a promoção do investimento.
O CANEX Workshop de Escrita Criativa é organizado em colaboração com a The James and Grace Adichie Foundation, uma fundação criada em 2023 para
orientar e promover as carreiras literárias de escritores, editores e outros criativos promissores, com a Narrative Landscape Press Limited.
Eduardo Quive tem o percurso marcado por criação de condições para encontros, intercâmbios e projectos colectivos nas artes e na literatura em particular. Recentemente, lançou o livro de contos “Mutiladas” (Catalogus) e coordena uma série de encontros literários mensais nas cidades de Maputo e Matola.