Entre “Médicos e Remédios”: a nova e velha escola de escritores

Dentre situações que comprometem princípios, entre a tradição e a ciência, passando pelo acesso e políticas que permitem maior circulação do livro, Aldino Muianga e Mbate Pedro, ambos médicos e autores, protagonizaram a conversa intitulada Médicos e Remédios, moderada pelo jornalista José dos Remédios, na presença de leitores e apreciadores das artes.

Os hospitais são o espaço físico mais presente na escrita de Aldino Muianga, o que está directamente ligado à sua profissão. Enquanto Mbate Pedro escreve para exorcizar a morte, Aldino o faz como forma de sacudir os fantasmas do dia-a-dia. O médico e o escritor usam da palavra para transmitir amor e esperança, disse o autor de Xitala Mati.

Entre a realidade e a ficção é possível encontrar na prosa de Aldino Muianga histórias da nossa cultura, são essas experiências que, para Lucílio Manjate “as obras de Aldino Muianga são arquivos para as nossas vivências. Estas obras deveriam ser mais valorizadas, usadas, inclusive num contexto de turismo literário, guias turísticos. É preciso trazer estes textos e fazê-los circular de diversas formas. Arquivar a obra de Aldino Muianga é sufocar o próprio autor”.

Os convidados de José dos Remédios tiveram espaço para ouvir do seu público respostas de perguntas que eles, como autores, têm dentro de si. O autor de Debaixo do Silêncio que Arde, questionou os espectadores sobre “como pôr a classe média a ler”. Das várias respostas dadas pelos presentes, estes foram unânimes em afirmar que a imagem do livro é escassa na sociedade moçambicana e por isso, há necessidade de criação de políticas que permitam a acessibilidade do livro. “Antigamente havia consciência social de divulgação da cultura. Havia por exemplo, um espaço dedicado à cultura no jornal Notícias, mas actualmente este espaço não existe. Há pouca programação dedicada à promoção do livro no país”, rematou um dos espectadores da conversa.

Em meio a tantas emoções entre os oradores, o moderador e os espectadores, não faltaram elogios da parte das figuras de cartaz: “Aldino é um escritor que escreve para as pessoas. Ele tem um sentido de espera. É paciente. Os editores gostam de editar bons escritores, boas pessoas. Ele, o Aldino, transparece humildade em seus escritos” disse Mbate. Por sua vez, o autor de A Noiva de Kebera disse admirar Mbate. “Ele é um bom escritor. Pertence à nova escola de autores. É preciso ter uma relação de amizade entre o editor e o autor e vamos criando esta relação”.

A conversa que decorreu ontem (14) no Camões – Centro Cultural Português em Maputo, inserida na programação da terceira edição do Festival Gala-Gala que acontece na capital moçambicana de 12 a 18 de Setembro.

 

Compartilhar
Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Email
Print

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *