O ritmo de música popular moçambicana está agora “proclamado património”, através do livro “Marrabenta – Um Património Cultural Moçambicano”, reunindo as pesquisas de João Vilanculo, Marílio Wane, Hortêncio Langa, Vítor Chibanga e Agnelo Navaia, com a coordenação editorial de Cremildo Bahule, sob a chancela da editora Khuzula. O objectivo da obra é registar a arte e contribuir para a valorização da marrabenta, mostrando a sua importância na história cultural de Moçambique.
A Marrabenta é um ritmo musical originário da zona Sul do país, e popularizada na então Lourenço Marques, actual Maputo. É uma marca de identidade nacional com vários intérpretes, cruzando gerações e variedades, sendo dos mais destacáveis percussores os músicos Dilon Djindji e Fany Fumo. O estilo mantém-se actual e continua a inspirar músicos, entre eles Stewart Sukuma, que cantou na cerimónia de lançamento no Camões – Centro Cultural Português em Maputo, cdeixando os convidados a dançar ao ritmo da Marrabenta.
“Marrabenta – Um Património Cultural Moçambicano” é resultado de uma pesquisa, maioritariamente oral, que levou cerca de 10 anos e deu origem à obra que chega ao mercado no âmbito do projecto Marimba. São no total cinco artigos reunidos, assinados pelos artistas e pesquisadores do ritmo, Marílio Wane, Vítor Chibanga, Agnelo Navaia, Hortêncio Langa e João Vilanculo, sendo que os dois últimos, já falecidos e, por isso, o livro publicado é em sua homenagem.
A filha de Hortêncio Langa, Xixel, que também trilhou o caminho das artes, entende que seu pai foi um cientista, com bastante conhecimento no envolvimento do património cultural. Ela está orgulhosa pelo legado por ele deixado: “Temos um fruto de investigação de 10 anos. Os meus filhos terão o conhecimento da Marrabenta e o avô foi quem escreveu.” Disse.
O livro é também fruto da contribuição do ARPAC – Instituto de Investigação Sociocultural onde estão vinculados os pesquisadores. A representante da instituição que falou na cerimónia de lançamento disse que a pesquisa surge no âmbito de um forte debate em relação à originalidade da Marrabenta como critério de construção de identidade nacional. “É um debate acerca da sua identidade, abrangência nacional nos meios de comunicação social e também uma forma de a Marrabenta reconhecer e representar a nação moçambicana, musicalmente.”
O Director Geral da Khuzula, Paulo Chibanga, afirmou que a obra é uma forma de não silenciar a história: “É o maior arquivo, no momento, em Moçambique“, declarou.
O representante dos cinco autores da pesquisa afirmou, em mesa redonda, que “Marrabenta – Um Património Cultural Moçambicano” enriquece e contribui para a sua qualidade na medida em que deixa de ser um título e passa a ser científico no processo evolutivo deste género musical: “A sua culturalidade permite que ela seja percebida como uma marca moçambicana. É um género de dança rural, que sofreu transformação de perdas, de ganhos, em grupos sociais que a constituem.”
A directora-geral do INICC – Instituto Nacional das Indústrias Culturais Criativas, Matilde Muocha evoca que o investimento empreendido para a pesquisa faz toda a diferença. “Há muita investigação no país não divulgada porque não há investimento multisectorial. Quanto mais se multiplicarem as fontes de financiamento, mais oportunidade se terá de publicar livros“.
A obra será importante para os estudos culturais e no ensino da música, áreas em que se insere a Escola de Comunicação e Artes, da Universidade Eduardo Mondlane, que esteve presente através do seu director, Eduardo Lichuge. “Para a ECA, esta pesquisa é importante no curso de música ainda por ter sido feita por autores moçambicanos e isto contribui para o conhecimento da música por parte dos estudantes.”
Estiveram na cerimónia várias figuras conhecidas como fazedores de artes e culturas, estudantes de música e o público amante da marrabenta.
Por Joanna Mawai