No 25 de abril: Isso é que era bom!?

Viver num país com liberdade de expressão. Um país sem fronteiras geográficas, linguísticas e de cor. Isso é que era bom, andar na rua e ser olhado com respeito pelos seus semelhantes. Uma não nação era mesmo bom. Um mundo sem bandeiras e escudos nacionalistas. Um mar sem arame farpado e um abraço aberto e quente à nossa espera em cada cais, em cada aeroporto do mundo.

O que era mesmo bom era ver a cidade colorida de cravos e povoada de sorrisos largos. Era mesmo bom, andar na rua como se atravessasse o mar por cima da água. Que fossemos Homens e Mulheres triunfantes. Altivos e insubmissos. Combativos, mas apaixonados pela beleza que há no outro, ao lado. O que era bom era uma festa comunitária no terreiro do bairro ou da vila ou aldeia. Uma fogueira acesa e uma voz antiga a contar uma história.

Era uma vez um mundo perfeito. Sem presidentes e charlatães. Sem cobradores de impostos e desempregados. Era uma vez um rei sem reino, um pai de família com um rico ordenado e uma mulher livre como os seus longos cabelos esvoaçando na brisa do fim de tarde. Era uma vez um país sem xiconhocas e satanhocos hipócritas que com as suas lágrimas de crocodilo fazem o eco do choro do povo depois de limparem o vinho e o borrego das beiças.

Isso é que era bom. Que a liberdade nunca acabasse. Que a liberdade do outro fosse a extensão da nossa própria liberdade. Era mesmo fixe, bué fixe ou mesmo maningue nice um povo sem medo de marchar e gritar os seus dissabores cotidianos e seculares na praça pública. Era mesmo bem que o espaço público realmente existisse e que a sociedade civil fosse independente.

Seria tão bom um escritor como o Eduardo Quive ter um milhão de exemplares do seu mais recente livro. Um terço dos moçambicanos a ler era mesmo bom. O que era mesmo bom era ver os políticos e toda burguesia moçambicana a consumir arte nacional. A abarrotar os concertos e a comprar à leilão as obras de arte de Samuel Djive, Suzy Bila, Butcheca e Mauro Pinto.

E se o ministério investisse nas casas de cultura. Uma casa de cultura para cada bairro, localidade, aldeia, vila, distrito, província e cidade é que era mesmo bom. O que era mesmo bom era o Mabunda construir um totem de um mil metros de altura empilhando todos os mísseis e armas de fogo usados na guerra entre a Rússia e a Ucrânia. O que era mesmo bom era o cessar fogo em Cabo Delgado. Uma paz sem sangue. Um dia de sol e borboleta como na minha canção.

Por Venâncio Calisto

Alcochete, 25 de abril de 2023

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