Um antigo colega durante o ensino secundário fez-me a seguinte pergunta: “se não houvesse nada no mundo que mostrasse o teu reflexo, como viverias sabendo como é a face do próximo, mas desconhecendo como é a tua própria imagem?
Está questão fez-me pensar sobre o modo como a nossa acção e as nossas atitudes em relação ao outro se reflectem em nós mesmos. Talvez falar sobre direitos, deveres, respeito e as vastas relações que nos prende como humanidade, tenha ficado estagnado nos textos da 5ª,7ª, 10ª classe, quando o professor nos perguntava quais eram os nossos deveres e direitos e nós nos divertíamos a fazer enormes listas. No entanto, ao longo da vida, lidar com o outro tornou-se uma tarefa árdua.
É comum manifestarmos a nossa comoção, quando a dor do outro está a anos-luz de distância, mas quando é alguém próximo, fazemos que não vemos, nem sabemos. Fazemos grandes manifestações em prol dos direitos humanos, mas tratamos de forma desumana o outro que nos é próximo. A empregada doméstica que cuida dos nossos lares; no transporte público, somos incapazes de ceder o nosso lugar a uma mulher grávida ou pessoa idosa! Mesmo sem sermos licenciados em Direito, condenamos diariamente no tribunal social os erros e as escolhas do próximo. A empatia para com o outro é um mero enfeite!
Falamos muito sobre direitos, deveres, respeito e todas os padrões que nos permitem coabitar como Humanidade, mas será que realmente compreendemos o que isso significa?
Porque é que respeitar o outro nos remói tanto? Porque exigimos uma mudança que não está no outro mas em nós mesmos? Precisamos, antes de mais, de lidar com nossas próprias dificuldades e imperfeições para lidar com outro. Se formos capazes de fazer isto, então poderemos responder ao meu colega do ensino secundário, dizendo: Eu não viria o próximo nele, ver-me-ia a mim , pois o outro, é um reflexo do mim!
Se não nos podemos enxergar a nós mesmos sem o reflexo do outro, porque não o compreender como um ser humano, tal como nós, com seus erros falhas e tropeços? Precisamos aprender a olhar para o próximo com respeito e compreensão.
Não precisamos ir até ao outro lado do mundo para fazer o bem , basta olhar e agir com respeito e gratidão para os que estão ao nosso lado . A beleza vive na diversidade das nossas semelhanças e o nosso maior dever é respeitar o outro para que esse respeito nos seja retribuído.
Convido a todos para destruir todas as pareces do preconceito e da indiferença que nos cercam e construir pontes , onde possam passar o respeito e a proximidade . Ensinar os mais novos a compreender a importância do respeito ao próximo é garantir um futuro mais humano e justo para todos.
Por: Marlen Dombo
Foto: Marcos Vieira
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Texto escrito para o Prémio Eloquência 2023.