“Poemas de Cabo e do Confinamento e Outras Extensões” – o novo livro de Armando Artur

Sai esta quarta-feira, 08, o mais recente livro do poeta Armando Artur, intitulado “Poemas de Cabo e do Confinamento e Outras Extensões”. A cerimónia de lançamento será às 17 horas no espaço Business Lounge by Nedbank, em Maputo. Lemos o livro e eis o que achamos… 

“Poemas de Cabo e do Confinamento e Outras Extensões”, mais recente livro de Armando Artur, é composto por 85 poemas de uma profunda introspecção do sujeito poético, que procura do seu íntimo e no horizonte, deixar falar a palavra. Nota-se, no livro, um Armando Artur, em síntese de toda a sua escrita, do esmero em encontrar as palavras certas, para dizer muito. Não se trata de economizar no verbo, é antes a extensão do campo da linguagem onde a poesia está por cima de todas as vontades do poeta, este que olha-se por dentro e deixa falar os silêncios e as vontades:

Eis-me pois à estampa e simetria

Daqueles em que me inspiro.

Não me furto por isso. Nunca! 

Diferente desta condição minha.

Sei que às vezes me descruzo

Comigo mesmo, naquelas tardes

Em que o sol me acena exausto

Por detrás das colinas.

(p.36)

Nota-se um poeta que não se exime e não deixa o verso livre pelos andares da folha. Acompanha-o e deixa cair a emoção dos seus dias, das suas vidas, das suas vivências. Um poeta com anos de vida e de experiência que vai influenciar muitos dos textos que escreve na obra. Encontram-se textos em que reflecte a sociedade, sem julgar, conversa com amigos e os seus íntimos, pensa os processos existenciais, os cursos da vida líquida e por vezes diluída de personagens que deambulam na nossa sociedade. É uma poética de personagens, cenários e contextos. 

Esse “Poemas de Cabo e do Confinamento e Outras Extensões” são vários retratos. Mas é sobretudo o “Espelho dos Dias” ou a “Quintessência do Ser”, celebra a poeticidade dos momentos, a alegria das pequenas coisas, insignificantes, talvez, no momento em que as viveu, mas que hoje são toda matéria, transformando a sua escrita em “Elegia de Si Maior:

Digam que procurei ser 

Simplesmente

Um olheiro das coisas triviais,

Da vida que chega e parte

Aleatoriamente,

E da sua realização na tela

Dos acontecimentos

(p.44) 

Em poemas como “Quando eu for poeta” (excerto que acabamos de ler), finalmente o poeta fica por fora da poesia, e olha-se para o Armando Artur, sujeito da sua própria obra. O homem que se rende à condição de trabalhador das palavras, porque, enfim, a poesia, como ele próprio dissera, “magoa”.

Em nota escrita no livro, o ensaísta Lucílio Manjate, chamou este, um livro de “afectos confinados” e justifica: “penso no contexto que gerou boa parte da poesia aqui decantada. Neste sentido, é capaz de chegar ao leitor a imagem de uma voz asfixiada”.

Ao que se nota, o confinamento que gerou a Covid-19, trouxe-nos este livro que abriu espaço para navegarmos na alma do poeta, seus temores, amores e querências. A intimidade e a proximidade das palavras, como se finalmente, tivéssemos chegado a um ponto em que o poeta não pode fingir sentir dor. O corpo é um lugar vazio que procura se preencher com pequenos acontecimentos, que vão ganhando dimensão própria. 

Com mais de 35 anos a publicar poesia, com cerca de 15 livros publicados, Armando Artur recebeu o galardão que consagra a carreira literária em Moçambique, o Prémio José Craveirinha, 2021.

 

Por Eduardo Quive

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