No livro “SerVil” da autoria de Tinga Maluvana encontramos ficcionadas historias da escravatura, numa rota que liga Quelimane, Londres e Brasil. No centro desta narrativa está o Homem transformado em mercadoria, desumanizado e submetido a uma realidade sangrenta.
Tinga Maluvana, também autor do livro “Eco do Pedestre Oco“, lançado em 2022, é o heterónimo do escritor Belisário Tinga. Em 2011, alguns textos seus, em colectânea com os de outros dois colegas de profissão, estavam em exposição na mediateca do BCI, num projecto intitulado “15 passos 100 10 contos”. No início do seu percurso literário de forma pública, teve alguns poemas publicados no extinto jornal semanal Dumbanengue.
“SerVil” , será lançado no dia 5 de Dezembro, às 17h30, no Business Lounge do Nedbank.
Para aprofundarmos a visão por detrás do livro “SerVil”, conversámos com o autor, buscando perceber os temas centrais e as inquietações que deram forma a este livro.
CATALOGUS: O que o levou a escrever sobre a escravidão em África?
TINGA MALUVANA: Foi a necessidade de abordar a história da escravatura e do continente africano, numa visão mais global e holística, mudando a forma com a qual estes temas são estritamente abordados.
C: Como conciliou a necessidade de rigor histórico com a vontade de criar uma narrativa ficcionada?
TM: Eu sou avido pelo conhecimento e, na leitura e escrita, identifiquei-me com esta forma de apreender: obter conhecimento científico através da ficção, leio muito este gênero literário, com destaque para José Rodrigues dos Santos e Dan Brown.
C: Conte-nos quais foram os maiores desafios na construção das personagens e na representação das suas experiências?
TM: É nesta questão que reside uma das maiores deficiência da educação em Moçambique, há falta de livros feitos por moçambicanos sobre a sua própria história e da descrição do passado em todos os sentidos, ou seja, falta um arquivo histórico – geográfico, pelo menos acessível. Mas tudo o que escrevi, tanto os nomes dos personagens como a descrição das paisagens foi baseada em pesquisa, tinha que fazer sentido e enquadramento.
C: De que forma a literatura moçambicana e africana influenciou na escrita deste livro?
TM: Para este gênero literário é preciso muita pesquisa e investigação, para garantir certo rigor científico e ao mesmo tempo cativar o leitor com um enredo que lhe mantenha interessado em aprender. É algo um pouco parecido com o trabalho de final de curso da universidade. Só para ter uma ideia, por falta de livros em Moçambique, tive que comprar livros fora do país com fundos próprios, para garantir o rigor na informação e ter objecto de confrontação do conhecimento existente sobre a matéria.
C: Como foi o processo de escrita deste livro? Encontrou alguma dificuldade em particular?
TM: Foi interessante, porque uniu duas coisas que eu gosto de fazer, obter conhecimento científico e criar uma história, mas a maior dificuldade, foi a falta de livros nas bibliotecas e livrarias.
C: Que tipo de público espera alcançar com este livro?
TM: Todos os que gostam de aprender coisas novas e de ler uma história, que não seja só para saber, mas também para transmitir e discutir conhecimento com outras pessoas. É importante que se perceba que esta obra não aborda apenas Moçambique, aborda o continente africano, europeu e americano ( Brasil) e parte do médio oriente, portanto é uma obra que pretende ser global, ou seja, de Moçambique para o mundo.
C: Por que motivo, no seu livro de estreia “Eco do Pedestre Oco”, optou por usar o heterônimo Ngoka Maluvana, enquanto em “Servil” assina como Tinga Maluvana? Pretende adoptar diferentes designações para cada título?
TM: O Ngoka parte de uma relação que gerou o escritor, portanto a parte emocional, e identifica-se com a poesia, o Tinga é um homem mais racional, metódico e académico. Houve a necessidade de separar estes dois Indivíduos, porque quem lê as obras, precisa separá-los, para que seja mais fácil focar-se apenas no gênero literário que lê, apesar de que, para quem já leu o romance, terá percebido que o Tinga escritor convidou o Ngoka escritor para ajudar a desvendar o Enigma.
TM: O passado é fruto da existência, e nós somos fruto do nosso passado, como diz Hegel, o passado se repete pelo menos duas vezes. Também, como é sobejamente sabido, é preciso compreender o passado para interpretar o presente, espero que quem leia este livro, encontre esclarecimento sobre factos presentes mesmo estando a aprender sobre o passado.
2 Responses
Pelo desenvolvimento da conversa, percebe-se que o livro tem um conteúdo muito bom.
Desejo ao escritor Tinga Ngoka,
Muito sucesso, que a aderência do livro supere as suas espectativas.
Trata-se de um livro com bom conteúdo. Esperamos por si no dia 5 de Dezembro para o lançamento.