As noites de teatro regressam à catedral das artes cénicas moçambicanas: o Teatro Avenida recebe o espectáculo “O Casal Palavrakis – os leprosos”, encenado por Venâncio Calisto, com a estreia no dia 24 deste mês de Agosto, às 18 horas.
A grande casa do teatro moçambicano volta a abrir as cortinas para o espectáculo. O Teatro Avenida recebe a peça “O casal Palavrakis – os leprosos”, um drama da autora espanhola Angélica Liddell, adaptado e encenado por Venâncio Calisto, com um elenco de talentosos actores, Adelium Castelo e Lizha Fox. O espectáculo vai estrear no sábado, dia 24 e estará em palco nos dias 26, 27, 28, 29 e 31 de Agosto, de modo que o público diferenciado e com ocupações de diferentes tipos não possa perder.
“O Casal Palavrakis” conta a turbulenta vida conjugal de Elsa e Matteo. Os dois foram vítimas de maus-tratos, na infância, e vivem um em função do outro, principalmente depois que tiveram a filha assassinada. O mundo é cruel. O trauma é do tamanho do abismo que se repete.
Em “O casal Palavrakis” nos deparamos com o quotidiano de Elsa e Mateo Palavrakis, que nos chega por via de uma narrativa fragmentada que avança e recua no tempo. Uma voz em off, um narrador como um deus tece e destece a trajectória do jovem casal, que, enquanto tenta vencer um concurso de dança, precisa lidar com a responsabilidade do nascimento de sua primeira filha”, lê-se na nota de imprensa, na qual se destaca, igualmente, que “Pouco a pouco, o público é introduzido numa atmosfera de violência e de pesadelo, em que já não se pode mais fugir”.
No espectáculo “O casal Palavrakis”, Venâncio Calisto desafia-se a estabelecer uma narrativa que dialoga com a realidade moçambicana actual e as questões universais presentes num drama contemporâneo e cuja força reside na denúncia da condição humana. “Em termos formais, estamos diante de uma releitura de ‘O casal Palavrakis’, num exercício de dramaturgia experimental, cuja escrita resulta do trabalho cénico, os actores e o encenador/dramaturgo no contacto com o palco buscam um discurso que seja a ponte entre o texto original e a multiplicidade de interpretações que a sua realização hoje em Moçambique implicam, o que resulta na versão ‘O casal Palavrakis – os leprosos’.”
A criação do espectáculo “O casal Palavrakis” marca a estreia em Moçambique do Movimento de Teatro da Experimentação dos Sentidos (TES), um colectivo artístico multidisciplinar que surge em resposta à problemática da fome num mundo em constante convalescença. Criado em 2020, no auge da pandemia da COVID-19, por um colectivo de artistas multidisciplinares e oriundo de diferentes países da CPLP.
A estreia da peça no sábado, dia 24, será repleta de simbolismos, esperando-se proporcionar uma experiência de teatro que marcará o público. A exibição em dias de semana como segunda-feira (26), terça-feira (27), quarta-feira (28) e quinta-feira (29) visa influenciar um novo paradigma no cenário artístico nacional, em que se abre a possibilidade da classe trabalhadora que vive nos arredores de Maputo, mas que se encontram no centro da cidade no meio da semana por conta das obrigações profissionais possa ver o espectáculo após o expediente.
Numa produção da Catalogus, com apoio à produção pela Embaixada da Espanha em Maputo, no espectáculo, a actriz Lizha Fox e o actor Adelium Castelo fazem o papel de Elsa e Mateo Palavrakis. A cenografia será feita por Ndlelene Cumbe, numa parceria com a Coisas de Madeira e Tal, com os figurinos a serem feitos pela artista Nelly Guambe e pela estilista Henriqueta Macuácua. Já a luz será feita por Phayra Baloi.
A apresentação em Maputo neste mês de Agosto, marca o passo rumo a uma digressão que se pretende fazer com a peça pelo país e pelo mundo. O espectáculo poderá chegar às cidades de Chimoio, Beira e Nampula, em Setembro, e ainda tem a previsão de exibição em Cabo Verde em Novembro deste ano.
Um encenador que pensa o teatro
Venâncio Calisto nasceu a 08 de julho de 1993. É ator, encenador e dramaturgo moçambicano. Formou-se em Teatro pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane e é mestre em Teatro, especialidade em Teatro e Comunidade pela Escola Superior de Teatro e Cinema, Instituto Politécnico de Lisboa.
Com um percurso teatral que passa por Moçambique, Brasil, Itália, França e Portugal, dedica-se à encenação e à escrita para a cena enraizada no teatro experimental e na criação coletiva. É fundador e director artístico do Movimento de Teatro da Experimentação dos Sentidos. Colaborou com o Teatro Nacional Dona Maria II, na criação da peça Viagem Por Mim Terra no âmbito da Odisseia Nacional (2023). Foi assistente de encenação do espectáculo As areias do Imperador de Mia Couto com encenação de Victor de Oliveira (2023). Estagiou no Teatro de Odéon em Paris e no Festival d’Avignon como assistente de encenação em La Cerisaie de Anton Tchekov, uma encenação de Tiago Rodrigues (2021).
Publicou os seguintes livros: Teatro – Nas Traseiras do Horizonte (Edição de autor, 2023), Dentro do estômago do mundo |dentro do vazio, para ser mais exato (Edições
Húmus, 2022); O alguidar que chora ou a história das pedras que falam (edição de autor, 2020, Húmus, 2021, Exclamação, 2023 e Cavalo do Mar, 2023).
Literatura
O embondeiro e a cobiça do senhor Hiena (Infanto-juvenil, Fundza, 2021); A aldeia dos Cajueiros mágicos, O Artesão e os macacos malabaristas e O Cão, a Lebre e o Pássaro (colecção Ler para Começar da AIDGLOBAL, 2022).
Participou nas antologias: Contos e crônicas para ler em casa – Volume I (Literatas, 2020) e Idai – marcas em verso e prosa (Gala Gala Edições, 2020);
Em 2018, foi distinguido com o Prémio de Artes e Cultura da Mozal, na Categoria de Teatro, e ficou em Primeiro Lugar no concurso de poesia Ponte Maputo-Ka Tembe promovido pelo Centro Cultural Moçambicano Alemão (CCMA).
Actualmente é professor de Dramaturgia na Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo.