A autora Yara Nakahanda Monteiro é a grande vencedora do 10º Prémio Literário Glória de Sant’Anna, com a obra MEMÓRIAS APARIÇÕES ARRITMIAS, publicada pela Companhia das Letras em 2021. O júri do prémio destacou, nesta primeira incursão da autora pela poesia, a linguagem simples e objectiva.
Nascida em Angola, em 1979, Yara Monteiro vive em Portugal desde o início da década de 1980. Trabalhou na área dos Recursos Humanos durante quase quinze anos, começou a dedicar-se recentemente à escrita e às artes após uma viagem ao Brasil que se revelou transformadora.
Jane Tutikian, jurada, refere no seu texto de apreciação: […]”Não se pense em rodeios estilísticos, em jogos de figuras de linguagem, em complexidade. Ao contrário, os poemas são construídos numa linguagem simples, objetiva, libertando, assim, a subjetividade e co-criação imagética do leitor.
É como se busca essa vida movente, na infância, na adolescência, em Portugal ou em Angola, no passado, no presente, buscando a constituição do ser, esse, sim, em sua complexidade, forjado pelo entorno. Há violência, há perdas, há trânsitos. Há aparições, há ambivalências, há lutas, preconceitos, sexismo, racismo… Há, sobretudo, uma grande poeta, capaz de decretar “ Eu sou de onde estou”, do poema “Previsão do Tempo” e, no poema final, quando tudo, aparentemente termina, tudo, efetivamente, começa com “Lado a lado”: “Junta-te a nós”. […]
Xosé Manuel Eyré Val, tambem parte do jurado, refere no seu texto de apreciação: “Considero que a temática directora do poemario é a futilidade, fraxilidade e evanescencia da percepción da vida, nacida da tensión que se establece entre unha moi forte introspección (ollada para dentro do eu propio) e outra tamén moi forte extropección (ollada sobre o mundo de fóra). Esta tensión está resolta cun dominio da palabra, espazo e ritmo moi salientábes tecnicamente falando. Desde o punto de vista temático interesoume a defensa e reivindicación da muller, que sempre é unha muller que sofre maltrato vital, sexa quen sexa o culpábel desta situación, que pode variar, na ecuación sempre se mantén o mesmo resultado: a dor e desosego que contaminan e tinxen a súa experiencia vital. Tamén me parece que cualificala como “decolonial” xa non obedece a un criterio estritamente realista. Claro que é decolonial, como será toda poesía após a independencia. Mais eu optaría por comezar a falar dunha xeración do século XXI e establecer as súas preocupacións temáticas e formais.”
Além do Prémio, Yara Nakahanda Monteiro receberá uma gravura original, de uma série de retratos de Glória de Sant’Anna, obra de Rui Paes. Para além da vencedora a Lista Final 2022 incluiu: André Pinto Teixeira, Alexandre Borges, Daniel Gonçalves, António Canteiro, Sérgio Godinho, Bernardo Pinto de Almeida e Victor Oliveira Mateus.
A cerimónia de entrega do Prémio não se realiza este ano, por razões ainda ligadas à pandemia. Será apresentada na página de Glória de Sant’Anna uma gravação vídeo divulgando as obras, os autores deste ano e músicos.