A gestora cultural moçambicana Maria Manjate foi selecionada para integrar o programa de bolsas AFRIAK – African Fellowships for Research in Indigenous and Alternative Knowledges, promovido pelo Conselho para o Desenvolvimento da Pesquisa em Ciências Sociais em África (CODESRIA), com o apoio da Fundação Mastercard.
A iniciativa, lançada em homenagem ao falecido académico ganês Dr. Sulley Gariba, tem como objectivo formar uma nova geração de jovens investigadores africanos comprometidos com a produção e valorização do conhecimento local, indígena e endógeno — saberes muitas vezes marginalizados pelas abordagens académicas e curriculares dominantes.
O programa AFRIAK aposta numa abordagem colaborativa entre jovens investigadores, mentores académicos e detentores de saberes tradicionais. A proposta é romper com a lógica de isolamento e silenciamento desses saberes, promovendo o seu reconhecimento como instrumentos válidos para o desenvolvimento social, económico e cultural do continente africano.
A seleção de Maria Manjate reconhece o seu compromisso com a valorização do património cultural africano e sua experiência no desenvolvimento de iniciativas ligadas à memória, identidade e sustentabilidade comunitária. Ao longo do programa, a investigadora moçambicana desenvolverá um projecto que articula o património cultural com práticas de conhecimento ancestral, contribuindo para a construção de soluções inclusivas, enraizadas nas realidades locais.
Além da componente de investigação e mentoria, o AFRIAK promove encontros de políticas públicas e a criação de uma rede continental de jovens investigadores e profissionais que trabalham com saberes indígenas e alternativas de conhecimento. O programa reconhece ainda a carga histórica e controversa associada ao termo “indígena”, propondo uma leitura crítica e descolonizada da produção de conhecimento em África, em linha com os contributos do filósofo Paulin Hountondji.
Sobre Maria Manjate
Maria Manjate é gestora cultural com mais de 10 anos de experiência no sector das artes, cultura, cinema e políticas culturais, com especial foco no património cultural africano. Desde 2018, colabora com organizações internacionais como a UNESCO, o Fundo do Património Mundial Africano (FPMA) e o ICCROM, desenvolvendo iniciativas voltadas para a preservação e valorização do património mundial africano, com destaque para programas direcionados à juventude africana.
É membro do Emerging Professional Working Group (EPWG) do ICOMOS para África, Membro Associado do Comité Científico Internacional do Património do Século XX (ISC20C) e integra o Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios (ICOMOS).
Maria é também cofundadora e directora-geral da OwnHeritage, uma consultora cultural especializada em património, políticas culturais e memória colectiva.
A sua nomeação para o AFRIAK representa um novo marco no seu percurso profissional, agora alargando o seu contributo ao campo da pesquisa crítica e endógena sobre saberes africanos, com foco na juventude e no desenvolvimento sustentável.